Expiação VI

Cansada de uma longa caminhada
Pousei armas, mantimentos
A guarda farta e recuada
Não protege sentimentos
Nada do que lá está me diz nada

O rosto que estragaram com unguentos
Morre de alma desfigurada
Por sucessivos esquecimentos
Queimam os dedos com que fui tocada
A todos os dias e momentos
Em que olho a sua fachada

Lacerada à noite por tormentos
Que me fazem chorar calada
Ouço os gritos, os lamentos
Que só vêm à tona se sonhada
Para amanhecerem esquecimentos
Dessa dor de caminhada
Em que erraram todos os ventos
A trajectória desenhada

Que tivessem estado atentos
Não pedi mesmo mais nada.

Expiação V

Procurei nos teus olhos a miragem
de um outro dia em que te amei
mais do que a mim a tua imagem
foi por muito o tudo-que-sei

Ainda procuro fotografias
de mãos e olhos trémulos, triste
Uma réstia desses outros dias
em que não querendo me partiste

Mas atiro para longe esses desejos
porque são vãos, enganadores
E o que sobra são ensejos
de pôr fim a essas dores

As minhas, as tuas, todas as misérias
pulsam ao sabor do sangue derramado
contam estórias pungentes e sérias
de quem sem saber amor
queria só ser amado
intentando fugir ao horror.

Expiação IV

Tudo ruiu
na manhã desse não-dia
as palavras
os gestos
gastas
escusos

Tudo ruiu
na manhã desse não-dia
abriu-se o abismo
dentro do meu coração

Choveram os meus olhos
tantos anos
Massacrados os braços
testemunhas

Tanto mal
tanta agonia

mas por fim sentiram a pancada
e tornaram corpos de ironia

na manhã desse não-dia

Expiação III

O beijo fulvo
na pele
massacrava e doía
mas era assim
esse ainda que turvo
era o melhor que sabia

intimamente e para mim
era só o que havia
dormente, enganada
enfim
era veneno que sorvia

Assim era sua pertença
amorfa
a seu sabor me mexia

como Judas via uma só sentença
mas nem a morte me redimia
pois o crime não fôra meu

Sendo seu
não me sabia
coser com as linhas que devia
e assim
mais um beijo seu
em meu rosto ainda ardia

Expiação II

Traguei o fel
Tragá-lo-ia mais uma vez
se fosse para me manter fiel
a essa reunião a três

Mas não
Retiro-me desse lugar
Ainda que custe a impressão
que tal seja alta traição
aos olhos de quem não sabe olhar

Procurei-me fundo
Senti estar a cair
mas a ruína era do mundo
que eu não queria trair

A custo de uma vida
vi tantas escalar e erigir
sobre os degraus-ferida
que não se atreveram cair

Expiação I

A cabeça não me dá silêncio
não o dá a ninguém
tenho-me dentro disso
tenho-me como se tem

Dancei-me toda madrugada
sem que lá eu estivesse ou alguém

Mas não se calou nenhum grito
admito
de todos os que gritei

Só e sóbria
vivi ébria uma outra morada
Só que para pasmo e mais nada
lá não morava ninguém
A folha branca aguarda as tuas palavras
que eu não sei escrever

A folha branca aguarda
que sejamos como fogo no dizer
que queimemos como facho
que a façamos arder
arder de febre
febre de palavras agudas
que espetam o doer
nas nossas carnes

A folha branca aguarda
o seu
o meu
o teu
o nosso apocalipse
e que o façamos dela
só dela

A folha branca
aguarda-nos acontecer

Sol d'infância

A sua felicidade,
brilhasse mais,
ofuscaria o sol.
São crianças
estão onde eu já fui
na recordação

Sempre pensei
que seria sépia,
mas não

O eco dos risinhos
é laranja
amarelo vivo
é vermelhão

faz-me sempre recordar
os vestidinhos
que a mãe me vestia no verão

e é este trazer em mente
que traz presente
o que lá havia ao coração

E quem perde esta semente
está perdido, pois então,
porque envelhece
sem nunca ter presente
as pérolas que por terem aí estado,
lá alimentam mais que um passado

presentes alimentam
os futuros que já lá não são
presentes dão forma e sentido
aos presentes que virão

Nas ruas passeiam vestidos, camélias em botão.
Ignoram que lá fora impera o negrume
A sós andam, iluminando como se fôra já verão
Mas à sua passagem se esvai o perfume
e com ele também a estação

Neste inverno
dos céus que aos poucos se quebram
cai gelo e impera a perdição
Mas não para essas flores que desfilam
derrubando uma densa, densa imensidão

Ignorarão elas por ventura
tudo aquilo que assim são?

No desnorte a aventura
de seguir sem direcção
perseguindo com loucura
poderosa, uma paixão

Só assim se torna íris
o arco da escuridão
e nós sabemo-lo
quer saibamos ou não
porque nasce connosco
o que é vida e o que não

como se um jogo cromático fôra
pintar torna-se missão
nossa e dessas singulares flores
que dançando escolhem as cores
com que se tinge uma visão.

As lágrimas da minha cidade

Caminho pelas suas ruas
perscruto a sua luz
olho as candeias nuas

chorarão,
as paredes das casas
quando me passam soturnas?

A alma da minha cidade
vê-se através do vidro translúcido das janelas
e as gotas da chuva nos invernos tingem o chão

ide vê-las, tão belas
as gotas e as janelas

Fendida de luz
pela noite dentro
chora a minha cidade

de comoção,
ou por ser noite sem que seja de verão?

Chora a minha cidade
choram as paredes das casas
rangem as portas ao vento
como quem geme

E porque gemerão assim as portas?
Perguntem às velhas tortas
que habitam esse outro chão
feito de casas velhas
que envelheceram com a ida do verão

Poderá o sol retornar
aos olhos nocturnos da minha cidade?

É manhã

A palidez impõe-se com a placidez do dia
porque sim,
é outro dia

As velhas já não lá estão
e jazem copos e vidros no chão
foi mais uma noite
daquelas que as portas chorarão

A cidade

É a mesma.

É a mesma?

Já não geme nem chora
a chuva já não tinge o chão
e os corpos gastos
já não riem
já não bebem
já não são

Passa-se a noite

e na minha cidade
nasce uma outra estação.




num lugar qualquer

Uma outra,
               essa, vez,
                               vi eu,
um sorrir de alguém para outro rir de olhar que não era meu.
Não faz mal,
eles não sabem ainda.

Mas à força de comparar, ainda bem!
(respirarei de alívio)

Ao lado desse quem, ficaria eu mais linda?
(Ficaria?)

Eu
      Não sei
E eles,
         não sabem ainda...




O meu eu está de esperanças
esperanças do fim
dos amores irresolutos

choro de dores do parto de mim
E por entre as lágrimas de vários lutos,
danço com a morte

E se eu fosse puro pensamento?
Não haveria catarse em projecto.
Seria uma outra que não eu.

Mas não!
Carrego um corpo de carne
não sou pura
nem pensamento

Vejo-me real
e grito agora as dores do parto de mim
mas virei à luz
isso eu sei

imensa na espera Sei
que posso
agora posso
dançar com a morte
porque não me ferirá


O Último Dia de Nós

No nosso último dia
mover-nos-emos como quem não tem amanhã
Seremos do universo a melodia
Coloriremos os céus com as cores da manhã

No nosso último dia estaremos ébrios
e dançaremos convulsamente
ao som inebriante de uma toada contundente
confundiremos os sóbrios

Seremos absolutos, seremos totais
Seremos tão brilhantes que ofuscaremos as estrelas
Seremos a noite, o querer vê-las
e tudo o mais

No nosso último dia

Poesia


Torna nosso corpo
os corpos com que dançamos agora
tira o corpo das mãos da mente e espera

Fundir-nos-emos como música
numa hora tão absolutamente bela
que não pode ser tocante ou comovente
porque é radicalmente contrária a isso

Arrebata a respiração exuberantemente
rouba as lágrimas do fundo do peito
derrama-as no chão como vidro estilhaçado

Sabes por ventura o que seremos depois?

Poesia

Arrancaremos versos dos estilhaços
onde as nossas bocas sangrarão
como quem beija

Torna nosso corpo
os corpos com que dançamos agora

Morde-me o espírito
arranca-mo da posse
e deixa que sejamos

Poesia

Fluiremos como as águas de um rio
até sermos torrente
em crescendo
até desaguarmos furiosos no oceano
até não cabermos no oceano
até galgarmos todas as margens
e fazermos da Terra lama
a nossos pés descalços subordinada

Torna nosso corpo
os corpos com que dançamos agora

Morde-me o espírito
arranca-mo da posse
e deixa que sejamos

Poesia

Incendiaremos os céus
com o nosso calor e corpo de astro
e então seremos

Poesia


















Vária VI

Crio frases de um outro
escritas por um outro
que não é senão eu
tenho um punho
que não me pertence

não é meu

mas insisto
em gritar o silêncio
com um grito que sou eu

mas que grita ele?
que grito eu?

pensamos em conjunto
e então
o encontro a sós

cá fora
lá dentro

desistiria outrora
mas atrevo-me e entro
nesse sonho que é seu

dele

não meu

Vária V

E assim surge a vertigem
quando me lembro de ter esquecido
arranca-me de mim como se eu fôra
lembrança de um fogo perdido

assim fátua me sou
quando não me vivo presente
sendo o ser que falhou
pensando me torno demente

pois se me esqueci de ser
vendi o meu lado vivente

por parvo valor irão ver
se passa a patacos a gente

Não pense, pois bem!

Porque pensar traz de volta
o tudo que não se tem

vê-se não vendo de volta
vê-se não vendo e está bem

E assim surge o estupor
que queria ser espanto
mas não sendo não é
e arruma-se assim a um canto

e torna-se feio e horror
olhar para o espelho de si
porque não está lá já nada
do que quisera ver visto aí

Vivente em meu corpo-morada
antes do fim afinal aparecer
tal como fruta tocada,
sinto-me a apodrecer.

Vária IV

A vida-eu
abeirou-se ao abismo
quando, percebendo, morreu
parte do meu psiquismo

passei a pensar
de formas truncadas
pensando pensar
ideias trocadas

e fui-me morrendo
assim aos poucos
amando de-dentro
de-foras já ôcos

E assim iludindo
pensava a verdade
que me ia fugindo
na realidade.


 Em antecipação de um dilema obscuro
baixou o corpo à cabeceira onde se pensa
mas a corrente era tão estranha e tão imensa
que a mente a entravava como um muro

Não podia pensar, isso era seguro
e sofria de uma solidão tão intensa
que doía com uma pungência imensa.
E o que fazer com o dilema obscuro?

Nenhuma luz, o escuro pesava
tinha o eterno por resolver
Multidão de vozes que não cessava

Pois então não estava a perceber
que é precisa, ah mas tão precisa
Uma grande morte p'ra se nascer

Vou sozinha no meu andar
mas a morte baila ao meu lado
está mortinha por me levar
e a este meu corpo alevantado

Mas se e só se eu deixar
dançará ela este bailado
pois no fim só a deixarei
levar-me o corpo de pecado


O chão coroado de flores
aguarda os passos do meu caixão

É primavera,
mas não para mim
que no meu gasto inverno
aguardo que seja verão
e se incendeiem os corpos

A noite traz os meus demónios à superfície
é preciso lutá-los
para que viva o meu próprio corpo
incendiado da Luz

É urgente lutá-los

porque o chão coroado de flores
aguarda os passos do meu caixão

o chão

coroado de flores

aguarda os passos

do meu caixão

o chão

coroado de flores

o chão


A espera interminável
dilui-se em pensamento
e escapam-me palavras
fluidas como o vento

esparsam-se e
leves
pousam-se papel

são notícias de mim
vivas à flor da pele

e da boca carmesim
enlaçam-se em ti
palavras que me devolves
escritas em teu peito acolhedor

e é tão bom ser simples e assim
poder contar contigo p'ra eu ser mim

espantar a dor
fazê-la ser só o que é
sem que me queime o seu ardor
porque me abraças
de cada vez que chovem lágrimas no meu rosto
e o carinho assim posto
faz com que as quedas sejam escassas

porque se me prendo a um lugar insano
és sempre tu que de lá me resgatas
porque não temes e ficas, tão humano
as pontas dos meus nós desfeitos reatas



A tristeza cobre-me véu
e grito a alma de mim afora
queria simples chegar ao céu
mas não agora
Estou a sós com o tempo
que passa impiedoso
em turbilhões de horas
que se esvaem como o sangue
do busto de um belo cadáver

o da menina que fui

Vejo no tempo que passa
nascer uma fugaz
nova figura

fina e de mulher

mas não a reconheço
então, eu toda me estilhaço

Minha alma gélida
petrificada

Meu coração tosco
empedernido

De mim não resta mais nada

Além-consciência, fala-se ao ouvido
na esperança de encontrar lá mais
que um eu esquecido

mas quando se esquece
de que se esqueceu
a voz desaparece
e com ela também o eu
O vazio estrangula
e vejo formas impossíveis
formas do horror que ondula
em linhas disformes

implausíveis

e silenciosamente combato
combates invisíveis
que se diluem no acto
de serem incombatíveis

minhas tantas naturezas
incompatíveis com a dor
mostram-se-me insanas
gastas
indefesas

e alto ergo em esperança
voltar um dia a ter as certezas
que tinha onde fui criança

tão amada seria
essa bela lembrança

mas não tenho disso

meu coração paira submisso
em volta de uma balança
que pesa não a justiça
ou a bem-aventurança
mas apenas o vazio,
a desesperança

ilhas do gelo negro

Estou só

Por mais que os teus retratos me movessem
sentir-me-ia sempre só.

Partes da madrugada evidenciam-se,
deixas para trás o leito quente que gela na tua ausência
todos os meus eus vivem na tua ausência
no gelo

E é tão extraordinariamente difícil perder-te
sem que uma só solitária vez
tenha atravessado esse gelo que ergueste

Pintas-me no rosto ilhas
que são todas tu
mas só têm uma cor
negro
pintas-me o rosto de ilhas negras
ilhas do gelo profundo e negro
de não te ter

mas já te vi
e se és frágil,
acalma-te nos meus braços,
mas não me mintas
entrega-te

E então não haverá feridas
e eu
não estarei só.

Para ti depende

A alma para ti depende,
tem vezes em que é vera,
mas, como tu insistes,
mero ponto de vista.

Mas que raio será isso?!

Feres-me a face do espírito
como se queimasses a pele
daquele rosto tão inteiro
tão verdade.

As tuas palavras ferem como flechas
a essa carne
que é forte, pois bem,
mas tão extraordinariamente infeliz
quando a feres

poderás tu entender
que o eterno se joga agora?






Anoiteceste para sempre

A bruma amanhece-me na boca
e vejo-te
é inverno no teu corpo
e chovem-lhe estilhaços do meu peito
amei-te todas as tardes

A bruma amanhece-me na boca
e imagino-te
é inverno no teu corpo
e beijo-te os lábios do mármore tão fino
amei-te todos os crepúsculos

A bruma amanhece-me na boca
e lembro-te
é inverno no teu corpo
e toco a tua pele impossível de pano cru
amei-te todos os ocasos

E anoiteceste para sempre TU

Bocado

Constringido
Truncado
Triste remoto bocado
ungido na minha testa
de carne infesta p'lo pecado

Semente

Quando cá chegaste éramos frios e distantes
nada em nós dizia que num pálido dia
pudemos desfrutar-nos como amantes

Quando cá chegaste trazias contigo flores
mas eram roxas murchas, irritantes
vinham coroar o velório das minhas dores

Quando cá chegaste eram cores ardentes
que me arrastavam até teus pés somente
lembravam-me dias tão distantes quão diferentes
em que o nosso amor era semente

Ninguém vai na tua vez

Silêncio
partiu-se o fio de Ariana

morreu assim a morte humana
que o esperava há uma semana

Vermelho

Sentou-se à beira da embriaguez
pediu-lhe conselho
instalou-se o silêncio
pediu-lhe conselho outra vez
sentado sobre um si mesmo vermelho

sentia as paredes do corpo ao revés
não era mais que um caco já velho

primeiro lentamente
depois como a vertigem
a morte era um fuso
que se desenrolava

mas ébrio estava obtuso
para a realidade  pungente

e assim,
periodicamente
por um tempo difuso
deixava de ser gente


Corpo Faminto

guarda-te inocência
do meu escabroso instinto
voraz concupiscência
de um corpo faminto

arrasta-me para baixo
quero prosseguir subindo

mas a ele, ai a ele eu sinto
queima-me facho
num fogo
tão lindo

faminto 
Faminto
FAMINTO
deuses
Musas
CORPOS
TU

Páro
e sinto
de novo
e sinto
sinto-os
sinto-te
sinto-me
e páro

De novo
sempre de novo

intacta tu

e eu
  
 findo. 

Carne Sacrificial

És carne sacrificial
sorvo-te o sangue

os deuses aguardam-te
no seu terrífico leito de morte

precisam-te

para que não morram já
precisam-te do sangue

e eu sou como eles
como a tua carne
roubando-lha

e cai o seu relâmpago
que me abduz

ficas tu
relampejada
imolam-te os céus
querem-te morta

aceitas?
Sangro fluindo no tempo
arranca-me à realidade que é estática
excepto quando se busca algo
remotamente parecido com a verdade


Rosas

Neste sítio não há rosas
porque as rosas não se têm num não-lugar

Abra-se espaço para as rosas
que depois virá a terra comê-las
tão delicadas

reguem-se os corpos
para que nasçam e cresçam como as rosas
como singularidades efémeras de beleza coberta de espinhos.

Belos corpos a dançar ao sabor do vento
ondulam erguendo o pó do chão
que acalma só no nascer de uma nova morte

é o pó do chão
que me recordam as rosas

são como os meus braços pálidos
também como eu não possuem sangue

fadada a perecer
pobre rosa singular

fadada a corromper
pobre pedra angular

ai os incautos que não sabem que apenas a dança do pó é charneira

No fim tudo retorna às mãos de Pandora
o pó
a morte

Nós, se vivermos em virtude disso teremos rosas
e, precisamente, Eris virá connosco numa caixa
que se abrirá de novo num novo não-lugar
onde mortos morreremos vivos como vivas rosas mortas

por enquanto olhei e estou aqui
onde não há rosas




Falamos para quem não pode ouvir
a boca escolhe a palavra na vez do coração
surge uma falha rotunda na emergência da comunicação

somos por via de não ser
sou-me por via de não me ser,
                                                      digo

O mundo tem-nos, mas largou-nos na inanidade
falhámos compreendendo equívocos como verdade
e agora
           pagamos

Pesamos,
mas abraçados a uma tábua
Flutuamos
               impedidos de a largar
E
  sem água
                sentimo-nos afogar

Pensamos
               mas
sem
      ou connosco lá?

Instalinsanidadização

fala
não se pode ouvir
a boca destila palavras

o coração
               não escuta
pálida a ondulação

permuta
falhada

absoluta

como o nada
a sós
a sós apela a vida

sem pertença

portador
de uma dor imensa
e
   no entanto
       sem concretização

ferida aberta
vista uma vez
outra vez
ao revés

haveria que antever

a falha
          em todos os alguéns
tivessem sido
                  antes
ninguéns
             des-significantes

Quantos olhos me vêem
em realidade?

todos
nenhuns
    desintegram
                       pois
e em verdade
é isso só
             instalou-se
a Insanidade



cinco anos de silêncio e uma tal de falta

E parecia, sim, que a vida tinha perdido alguma cor Que o frio gelava mais,  que o sol já não brilhava da mesma forma E eu só queria que me ...