Encontrei-me
às portas escancaradas da vida.
De joelhos,
Estarrecida.

Perante a multidão de mim,
Soçobrei.

Tudo tão maior do que a esperança...
Tudo tão para lá daquilo que ousei...

Pude tanto,
mas tanto,
Que não lembrou à lembrança.

Estar aqui hoje,
Dizer que Te sei,
Saber que me dei,

Inteira depois,
mas primeiro partida,
fiz sozinha um caminho a dois,
Que me mostrou o Teu lado,
Pois que me deste a Vida.

É Teu o meu fado
de pessoa Inteira,
não mais dividida.

Vêmo-nos depois.
Tinha escondido um realejo
No escaninho meu coração
Ia tocando baixinho
sempre a mesma canção

Um dia quebrou-se-me o realejo
Na dureza minha mão

Chorei o fim da canção
e hoje canta assim:
uma espécie de choro
sem desejo´
sem consolo
ecoando na escuridão.

Parti o realejo
Na dureza minha mão

tenho sonhos em que o ouço
partir-se
em uníssono com o lamento
quebrado
do meu pobre coração.

Sexto

O mundo é um poema já,
condensado num segundo,
que nada é se não for Teu.

Atiras para o lado de lá
o mundo pelo mundo.
o mundo por Ti, queira eu!

Porque a Verdade é, não há.

E a felicidade, no fundo, é matar o mundo.

Sem o tempo procurar
o que lá há de profundo.
Lembrar-Te nele e continuar
a viver o mundo-poema no mundo.

Aproveitar o dedo Teu que lá está.

Porque a Verdade é, não há!

Quinto

Via-Te eu na chama acesa até
daquela vela no Altar.
Firme e forte, levada p'la Fé
àquele lugar.

(eras Tu em mim, não eu)

Precisamente ali o aqui de estar,
ouvi naquele segundo.
Era sobre Ti, não sobre o lugar
onde pousaste o mundo.

(eras Tu em mim, não eu)

Senti bem o sentido,
que o Todo tem na Verdade.
Estalaste-me alto ao ouvido
a voz da Tua Infinidade.

Quarto

Olhava a chuva, enquanto quieta chovia,
do céu, em catadupa.

O movimento cessava no olhar
Como uma fotografia.

Era o tempo a parar.

Neste meu contemplar,
descobri coisas admiráveis.

E quanto mais admirava, mais descobria,
a beleza singular de respirar outro dia.

É difícil ouvir no ruído,
mas uma voz veio e gritou.
Colou-se, forte, ao meu ouvido

Sei agora:
Foi p´ra isso que o criou!

Adormecida

Adormeci.
Quando acordei estava morta.
Tinha nascido,
outra vez...

Quanto me tolda a alma,
meu Deus!

Passeio pelas ruas um corpo
cheio às vezes de nada,
mas sempre de Ti.

Vejo tão mal a altura,
meu Deus!

Tenho a vertigem
na Altura.

E é tão difícil ter-me contigo,
como Te tens comigo.

Vou adormecendo...
adormecendo...
adormecendo...

As Luzes

As luzes vão acender-se
Quando te perderes no caminho
Os passos suceder-se-hão
Andando devagarinho
Sem medo, com audácia
Perceberás não estar sozinho
E ainda que o sofrimento grite,
Manietando-te com os seus grilhões,
Acharás pouco, poucochinho
Sobreviveste a muito mais.
Acredita um bocadinho
E verás
Que os teus sonhos
São muito mais do que reais.

cinco anos de silêncio e uma tal de falta

E parecia, sim, que a vida tinha perdido alguma cor Que o frio gelava mais,  que o sol já não brilhava da mesma forma E eu só queria que me ...