é noite cerrada
como os olhos de um que se finou
todos os barulhos se ampliam
e as ruas não estão calmas porque nelas
o ar gela e as pedras gemem alto de tanta dor
não mais me compreendo ou sequer quero
sinto quebrarem-se-me as arestas do corpo
sinto um terror de morte
de mim
é noite cerrada
dormem os justos
e quem tem culpas como eu
engole os seus vértices
que rasgam a garganta
e fazem com que a boca saiba a sangue
e o que corre nas veias faz barulho
grita e bate-se porque se não se batesse
mataria
e os braços e as pernas ficam negros
das pancadas na alma
nunca fui tão sincera com a minha pequenez
a impotência abeira-me do abismo aos poucos
e eu sei
que fui eu própria que me arrastei
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