Fui apanhada de surpresa
por uma súbita distracção
que me roubou a beleza
por ma ter posto na mão

Sou-me triste mas sou-me
na ânsia de não me ser
na pressa que se sume
de morta não vir a morrer

E sei que a perda que sinto
é a minha inocência a partir
para que nasça novo e sucinto
o que faz um escopo surgir

O de tragar o gosto do fel
e assim a mim atingir
aguentando firme e fiel
cruel a senda que é existir

É curta e seca a demanda
e daqui é sempre a descer
excepto p´ra quem voa, não anda
e no fim não se escusa viver

Melancolia

Do alto do esplendor enclausurado
olha-me a foice da melancolia
Vem ceifar-me a vida de outro dia
em que fôra triste mas amado

O que sinto agora não tem nome
resta uma frágil réstia de saudade
de quem morreu sempre a metade
sem que do outro a si nada se some

Aos poucos perco e me consome
um fogo fátuo tão inevitável
um verme que ao meu corpo morto come

Sou não mais que a imagem instável
de um vivo morto que sabe que dorme
sobre um monte de lôdo detestável

cinco anos de silêncio e uma tal de falta

E parecia, sim, que a vida tinha perdido alguma cor Que o frio gelava mais,  que o sol já não brilhava da mesma forma E eu só queria que me ...