Pai

Sabes, meu Pai, meu amor,

tenho saudades de te ver sorrir

de te sentir o calor das tuas mãos e do beijo na tua face

trouxeste-me à vida assim simples,

nas mãos do teu amor

do amor que tinhas à Mãe

do amor que partilhaste e que me deu vida

(colaboraste com Deus)

Fui a menina dos olhos teus

E agora que partiste sinto-te doer 

mas perto

À distância de um pequeno salto 

E tento sentir chegar-te

Pertinho

Chorando ainda

Que estás por detrás desse véu, 

que ainda nos separa um abracinho!


Sento-me naquele banco

Onde descansávamos do passeio a pé

e anseio

Ter-te perto outra vez

sabendo onde estás

e já como é             longe

Teres partido!

I

 

Perscrutei as veredas de um caminho

Onde decidida me queria percorrer

O frio queimava um andar sozinho

Entre eu que respirava

E o que estava a acontecer

 

Estava a sulcar na terra fria

Um vinco entre a alma e o doer

 

E à janela, despedida,

Uma outra eu

Que cantava por sofrer

 

II

 

A pena que empunhava ao escrever

Roçava nas linhas

Que escrevia

 

Eram toscas formas de viver

Formavam formas de entender

 

E essa pena que empunhava ao escrever

Sofria

Sofria por saber

Que sem mãos não escreveria

 

 III

 

Ao ler-te esta manhã, verso

Pintei-me de universo

Vesti-me de manhã e saí

 

Vi flores

Vi sorrir

Vi maneiras de estar e de fugir

 

Vi que mais que ver, devia ir

Encontrar-me

Resgatar-me

E seguir

 

IV

 

À beira do fim das coisas

Tropecei no tempo

Eram roxas as papoilas ao vento

 

E volteei contra essa areia

Que havia perto das papoilas

 

Sem querer, agarrei-me a uma

Como se a quisesse absorver

 

Essa imagem com que sonhei não ir com o vento

Está ainda longe do que pinto quando tento

Ainda presa ao sonho,

sobreViver

Diluída nisto de ser

Tinha mão nisto de viver

Diluida nisto de ser, tinha o que esperar, sabia o que dizer

Tinha mão, assim o achava

Mas sempre só se diluem as certezas quando se olha a realidade

(É que é tão nítida!)

Um dia cai-se e então descobre-se o chão

Outro dia voa-se pelo ar na vertigem de querer o céu todo abarcar

E por um breve instante surge em dúvida aérea a pergunta:

Que hei eu de ser?

Quem serei eu, já que quero Viver?

cinco anos de silêncio e uma tal de falta

E parecia, sim, que a vida tinha perdido alguma cor Que o frio gelava mais,  que o sol já não brilhava da mesma forma E eu só queria que me ...