Amanheceu hoje

E foi para toda a gente que o sol sorriu, 

espraiou os seus braços de luz e aqueceu

um mundo que dele carece


Amanheceu hoje

E  por mais que a vida se constitua em problema,

O vento fez as folhas silvar

Nos ramos das árvores quietas

As aves continuam a ser um milagre 

como as papoilas que teimam em florescer

À beira da estrada,

Grandiosas na sua pequenez


E como será esse Amor que nos fez??


Amanheceu hoje 

outra vez

Pela primeira vez


Amanheceu hoje

E foi para toda a gente

Lonjura

Ondulam ventos que te trazem

de volta ao centro de ser

São como um sentir que saber é distante 

de integrar e viver


Quem tens trazido pela estrada de existir?

Um ter que distraia quem agrada,

Ou o que ainda esperas atingir?


Pensas às vezes que o caminho, 

esta estrada,

é mais longa 

demorada

e

distante 

do instante 

que é morada 

do teu querer e desejar?

Senteste-te agora, por fim, viajar?


Partida

Há uma corrente quente que se sente por não poder senão correr

Há uma questão que torna em redor de uma mão estendida:

E se viesses ver a vera vida?

Quem te demoveria de amá-la,

como se ama uma partida para onde se tem querer?

Letra, meu amor!

Letra, meu amor,

soletra a minha dor

em métrica,

em ardor


Letra, meu amor,

rasga o papel como se fosse

a pele doce e jovem de uma tal musa


Letra, meu amor,

incendeia-me sem queimar

que teimo querer-te para sempre 


Letra, meu amor,

Letra, meu amor,

Letra, meu amor!


Donde vieste tão concreta

quem te fez abstrata e inquieta,

expressiva, viva, êxtase e furor?


Letra, meu amor

diz-me o universo todo e além disso

que então eu, no papel submisso, 

te plasmarei num para-sempre

sem temor!



Ao Leitor IV

 O poema é problema 

ainda antes de surgir

é súbito desejo de exigir

O mundo todo de uma vez

Quem e como fez

com que um poema, em sua vez

súbito te caísse noema?

Quem te roubou, estático,

ao descanso de seres nulo?

Quem te beliscou?

Quem te fez dar esse pulo

e nascer outra vez?

Ao Leitor III

 Leitor,

quem te deu palavras para ser?

quem te persuadiu que ler

era como consumir

uma tal vontade de exixtir?


Quem te bafejou de desejo,

quem te ensinou assim, a morrer em chamas

como quem amas por escrever?


Quem é o poema?

Quem vem o poeta a ser

nos teus lábios,

Vida e sede?


Quem derrubou essa parede

em que teimas habitar quando não lês?


Quem te ergueu e como o fez?

Quem te deu armas p'ra saber

que nasceste onde a palavra morreu?


Quem te moveu a ser mais do que tu,

Eu?

Guardo um segredo

Guardo um segredo

Que todos conhecem de cor

que me faz habitar um tal degredo


Guardo um segredo


E ninguém está perto porque o guardo

E ninguém pode demover-me de guardá-lo


Não é de propósito que nele me detenho

É porque com ele num nó me tenho

que me faz beber de uma tal dor


Há os que o pensem amor

mas amor com A pequenino

porque me aprisiona

E me engole o que imagino


A dor que me causa, já nem a sinto

porque quando me-lho dei não sabia

que me ia roubar de mim

que me trairia


que esvaziar-me-ia

um dia


E escrevo agora, que estou vazia

que guardo um segredo

que é alimentado essencialmente por um tal de


Medo


Guardo um segredo


cinco anos de silêncio e uma tal de falta

E parecia, sim, que a vida tinha perdido alguma cor Que o frio gelava mais,  que o sol já não brilhava da mesma forma E eu só queria que me ...