Até que página não se aguenta? (Ficção Poética Breve)

 A noite trouxe-me aqui e está tão imaculada que não ousaria fotografá-la... Há camadas de transparência que não se fotografam mas vivem-se. Estamos devagarinho a matar a recordação... nem damos conta!

Aqui dentro o dia pulsou todas as más notícias ao mesmo tempo e agora sinto a exasperação de quem correu sôfrega e exasperadamente atrás de uma quimera. Partilhei isso ao telefone. Ficou arrumado? Ainda hei de descobrir (como com que força me levantarei amanhã)...

Todas as palavras parecem parcas para te chegar! Abraço!!

E existe a evidência de que estou triste, mas que se sente agora do meu lado que cá dentro já não tenho espaço...

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Se não se importar pouse o casaco e fique por aí Fernando, que vou buscar o Ricardo e venho já.

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Não os encontrei

Dentro do livro só havia letras e umas grafadelas de lápis detestáveis de quem estuda um texto feito para ser sorvido... Lamento imenso mas sobretudo repugna-me, a si não?

Deixaram-no praí morrer nas mãos de uns egozinhos que estragam as capas dos livros e inclinam as cadeiras contra as mesas... São aos milhares!! mas não são os piores, ao menos a inocência vai perdoando a estupidez, já a parvoíce maturada não se aguenta! E parvos maduros são aos milhares também.

No fundo está lá tudo

Ou não tivesse chovido até à página 91

Mas que se dane, nem devia ter começado por aí.

Quer um chá?

Não?!

Claro...

Morto já não consegue beber, não é Fernando?

Fernando?!

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Calou-se.

E o Ricardo não chegou a aparecer, no final de contas... Vá! Leiam mas é o caraças do livro!

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Não, você não, Fernando! Pois, não não, sim sim, pois claro. Compreendo... 

Agora não é oportuno falar.


Sim, acabou de acabar assim.

Literatura de palha sob tule de dossel

Juntei um monte de folhas de papel

Eram literatura de gaveta

Não tanto de cordel


Não quis pôr lá palavras públicas porque era de um segredo que eu falava

era um segredo que lá estava

espraiado em tule de dossel

sobre uma cama de palha

que acabaria por se incendiar

cumprindo-se fiel



Prece

Sou um pouco mais que nada

e um pouco menos que tudo

Escondi-me dentro do Teu escudo para chorar

deste-me as asas, não as consegui abrir

Abraça-me

Abraça-me que estou a caír!!

Faltam cá coisas de lá - I

Faltam cá coisas de lá


Lá, onde não se dói, 

Encontrei ânimo para insistir

para aceitar o que já foi

para sair do erro 

para não desistir


Encontrei de novo o que há por viver

o que há por amar

o que há por querer


Lá, onde não se dói

soube que viver não é um resumo,

é uma laranja inchada de sumo 

que quero passar a vida a sorver


Lá , onde não se dói

morei

recomecei

e aprendi que há que crer!!




Uma Lágrima para me reerguer

Quando se acende uma chama

há um bocadinho de escuro que se esconde


Sorrir é um bocadinho de luz que se abate às vezes por dentro de tanta dor!

Choramos para dentro, mas de quê??


Se a dor pudesse ser e fosse contida por mim só, como choraria?

Morreria, que não sei como a tanto chorar!


Mas Alguém chorou comigo e Se comoveu

me deu a Sua Mão para me levantar

A Água do Seu Lado para me lavar

O Seu Colo para me conter

O Seu Corpo para me Salvar

O Seu Abraço para me Sossegar

O Seu precioso Sangue para me Libertar

A Sua morte para que pudesse Viver

A Sua Alma para que pudesse n'Ele Crer


E Chorando comigo para me reerguer

Por Purísssimo Amor quis Chamar-me a Ser

Para que pudesse e desejasse 

Sendo completamente já não só nem eu

Ser uma só conSigo

E n'Ele Inteira, Completa,

Verdadeiramente Caminhando

Viver


Outra vez o Pai

Se me perguntarem onde estás:

Onde estou

Se me perguntarem como estás:

Sabe Deus

Mas os beijos, os abraços com que te me deste

Continuam meus!

Guardo-te à beirinha do meu rosto

Onde tantas vezes me afagaste o coração

E foras tu onde quer que fosses

Estarias sempre tal qual estás agora,

Apertadinho, agarradinho à minha mão

E se choro pela tua falta é só porque o céu para onde foste

Fica muito longe deste meu chão!

Tu

Porque me faltou o colo recorri a Ti,

porque me esqueci como se sorri

porque a noite se abateu

e não me pude abrigar

tornei a Ti


E no fim

o Sentido

Está à mostra 

escondido

Em Ti


Ajoelho-me a Ti


que só Tu sabes, meu Deus

que só a Ti cabe, Senhor

do quanto chorei

o que ofereci!



cinco anos de silêncio e uma tal de falta

E parecia, sim, que a vida tinha perdido alguma cor Que o frio gelava mais,  que o sol já não brilhava da mesma forma E eu só queria que me ...