Busque-se dentro o que está dentro
e fora tudo o que não

mas se o não é nada
e o fora é não

então em que morada
mora a confusão
que faz do não nada
e do fora não?

esconde-se na palavra a vertigem
deste reino de ilusão
que dá ser ao nada
que dá sim ao não

e, de repente, estamos dentro
de um todo sem centro
que se fecha um segundo
p´ra ter tudo o que é do mundo
preso dentro de uma mão.
Na rua o bulício
tolda os olhos da mão
olhar para fora é um vício
que traz a névoa à visão.

feito todo de universo

Ajoelhada e estante
esforço o ouvir
à toada concreta.

Peço à mão que hoje seja
uma mão de poeta

e desenhe versos
e saiba sentidos
não dos que se sentem
mas dos que, ora proibidos,
ainda se sentam ao meu lado.

Beijando triste o fado
que da mão escrevente
em frente vai
de costas visto e voltado.

Suspirante de outro ai
que jamais é despedido
vivo à tona do sentido.

Permanecerei assim
até que mergulhe o permitido
e derrame na folha um verso
que saiba dizer que sim

já separado de mim
feito todo de universo.

Inspiração é uma coisa que se gasta
é como um sopro
e para escrever não basta

respirar

Ao verso pede-se que rime
e quando a rima não vem
rimos

há verso branco também
o que redime

E quem tem a escrita por mãe
sabe que tine
fino
o sino da inspiração

em cada traço
em cada passo

da pobre mão

torna-a lâmina exígua
precisa
e mais do que de carne um pedaço
a  seguir ao braço

Mas não será que
por mais que não pareça
a mão
em verdade
venha a seguir à cabeça?

Há dias que luzem
em que cabeça e mão
seduzem

o papel

e como um pedaço de pele
comporta-se o papel

resguarda os músculos
os ossos
de um ofício cantante

e parece
por um instante

que se deu à luz um infante

E, de repente, volta-nos o génio à sala
e somos só gente que fala
na casa da imaginação.

Fecham-nos a porta e hoje já não

Amanhã cabe buscar
ideias límpidas e frescas
como o luar

para que possa ser
o infante

e que por via de o ser

CHORE

e de plenos pulmões
IMPLORE
ao leitor

ATENÇÃO

é que as coisas valiosas
vêm escondidas

ditosas

nas entrelinhas de um texto por escrever

Falta que faça falta
e então

juntam-se canto e corpo
cabeça e mão
a uma pitada de alma
e fecha-se o círculo divino
de uma promessa

é que a Musa tem pressa
em dar ao risco
CORAÇÃO


Tenho saudades
das horas que passava
a ouvir
a sorver boas frases
para cravar nas folhas
brancas
compondo poemas
como quem planta flores
como quem fala dessas flores
sendo bolbo
e depois murchas

Não interessava ontem
como falava delas
e hoje como ontem
não interessa
como falo delas

Preciso apenas
falar

Mas não consigo
A colecção de todos os silêncios
é uma gritaria

todas as injustiças do mundo
sussurram que fizeste por merecê-las

Estás a sós com o pior de ti
E ontem
quando o mundo parecia ter para ti sido feito
passou

como fazes para não desistir
não sei senão insistindo

porque cada dia é
de facto
último


A música do verso
deixou-me

e não há dor maior

fico ao concreto cingido
fico só e despido

por não saber melhor.

Que a sombra dance com a luz,
Que as cores me arrebatem
me torçam
me matem!!

E voltes tu

Verso

cinco anos de silêncio e uma tal de falta

E parecia, sim, que a vida tinha perdido alguma cor Que o frio gelava mais,  que o sol já não brilhava da mesma forma E eu só queria que me ...