Cantem-se Cânticos
Escrevam-se Odes
No princípio é sempre o Verbo
No fim também
A diferença é que se nasce no início de um grito
E se morre no fim de outro
De resto vive-se no Verbo
E ele vive-se em nós
Todos os prantos de morte
São hinos à vida
Tão simplesmente porque onde surge um pranto
Está alguém que chora

Outr’alguém por quem vale a pena chorar.
Persigam-se os teus passos de sombra
Apaguem-se as candeias que chegou a manhã
Fere os olhos
Tão concretamente
Ver que já te foste
Que quase fui contigo
Oh, dor!
Atreve-se a manhã a eclipsar a noite
Num adeus
Em nada diferente do que diz o ocaso ao dia
E percebo, ah como percebo!
Porque me incomoda a luz

E com quanto te queria.
Os mortos são gente estranha
porque a morte não se soma,
não se sabe, só se entranha.

agarra-nos em bruto na sua manha
adormece-nos, desmaia-nos
e de súbito tudo tem uma cor estranha

tudo se transforma nas cinzas
dos fatos de luto

não se quer acordar
nem dormir
nem andar
só sumir.
Os mortos demoram tempo a morrer

De repente a vida presta-nos contas
da viagem a um deserto de lonjura

zangamo-nos com a alegria
porque já não faz sentido
no mundo que se nos apresenta agora

tão sem cor, tão sem nexo

o espaço vazio avançou impiedosamente
preenchendo todos os lugares que habitávamos

curiosamente vamos ocupando-nos de uma verdade:
a de que a morte é melhor connosco
quando somos nós com ela
não aqueles que amamos

passa por nós o tempo
passamos nós por ele

e depois, a vida estala-nos na cara

cinco anos de silêncio e uma tal de falta

E parecia, sim, que a vida tinha perdido alguma cor Que o frio gelava mais,  que o sol já não brilhava da mesma forma E eu só queria que me ...