As lágrimas da minha cidade

Caminho pelas suas ruas
perscruto a sua luz
olho as candeias nuas

chorarão,
as paredes das casas
quando me passam soturnas?

A alma da minha cidade
vê-se através do vidro translúcido das janelas
e as gotas da chuva nos invernos tingem o chão

ide vê-las, tão belas
as gotas e as janelas

Fendida de luz
pela noite dentro
chora a minha cidade

de comoção,
ou por ser noite sem que seja de verão?

Chora a minha cidade
choram as paredes das casas
rangem as portas ao vento
como quem geme

E porque gemerão assim as portas?
Perguntem às velhas tortas
que habitam esse outro chão
feito de casas velhas
que envelheceram com a ida do verão

Poderá o sol retornar
aos olhos nocturnos da minha cidade?

É manhã

A palidez impõe-se com a placidez do dia
porque sim,
é outro dia

As velhas já não lá estão
e jazem copos e vidros no chão
foi mais uma noite
daquelas que as portas chorarão

A cidade

É a mesma.

É a mesma?

Já não geme nem chora
a chuva já não tinge o chão
e os corpos gastos
já não riem
já não bebem
já não são

Passa-se a noite

e na minha cidade
nasce uma outra estação.




Sem comentários:

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