Inspiração é uma coisa que se gasta
é como um sopro
e para escrever não basta

respirar

Ao verso pede-se que rime
e quando a rima não vem
rimos

há verso branco também
o que redime

E quem tem a escrita por mãe
sabe que tine
fino
o sino da inspiração

em cada traço
em cada passo

da pobre mão

torna-a lâmina exígua
precisa
e mais do que de carne um pedaço
a  seguir ao braço

Mas não será que
por mais que não pareça
a mão
em verdade
venha a seguir à cabeça?

Há dias que luzem
em que cabeça e mão
seduzem

o papel

e como um pedaço de pele
comporta-se o papel

resguarda os músculos
os ossos
de um ofício cantante

e parece
por um instante

que se deu à luz um infante

E, de repente, volta-nos o génio à sala
e somos só gente que fala
na casa da imaginação.

Fecham-nos a porta e hoje já não

Amanhã cabe buscar
ideias límpidas e frescas
como o luar

para que possa ser
o infante

e que por via de o ser

CHORE

e de plenos pulmões
IMPLORE
ao leitor

ATENÇÃO

é que as coisas valiosas
vêm escondidas

ditosas

nas entrelinhas de um texto por escrever

Falta que faça falta
e então

juntam-se canto e corpo
cabeça e mão
a uma pitada de alma
e fecha-se o círculo divino
de uma promessa

é que a Musa tem pressa
em dar ao risco
CORAÇÃO


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cinco anos de silêncio e uma tal de falta

E parecia, sim, que a vida tinha perdido alguma cor Que o frio gelava mais,  que o sol já não brilhava da mesma forma E eu só queria que me ...