Os meus olhos marejados
Os meus membros macerados
Pesa-me o colo vazio

Na pele as marcas
na cara o frio

Anoiteceu e estou desfeita
sinto-me víuva do amor que nunca me beijou

e com estes lábios virgens
mordo passos de quem errou
toda a curta vida

acordei morta
já não me sinto

páro
pois preciso respirar
mas de peito cerrado
falta-me o ar

está tudo errado
no meu andar

círculo fechado

gastos os pés
doem-me de andar
à volta da cabeça

a pensar
que haja primavera e não me entristeça

mas tenho o azar
de usar muito a cabeça

lucidez?
vil senda essa
não há volta a dar

uma vez vista a imagem
imprime-se na alma
e degrada
a alegria que louvava
quando não sabia andar

do berço lembro-me da luz

mas sem colo
as grades frias
ainda me ferem

resta-me dormir
e ser-me sonhada
o que não consigo ser

acordada


Sem comentários:

cinco anos de silêncio e uma tal de falta

E parecia, sim, que a vida tinha perdido alguma cor Que o frio gelava mais,  que o sol já não brilhava da mesma forma E eu só queria que me ...