Os meus olhos marejados
Os meus membros macerados
Pesa-me o colo vazio
Na pele as marcas
na cara o frio
Anoiteceu e estou desfeita
sinto-me víuva do amor que nunca me beijou
e com estes lábios virgens
mordo passos de quem errou
toda a curta vida
acordei morta
já não me sinto
páro
pois preciso respirar
mas de peito cerrado
falta-me o ar
está tudo errado
no meu andar
círculo fechado
gastos os pés
doem-me de andar
à volta da cabeça
a pensar
que haja primavera e não me entristeça
mas tenho o azar
de usar muito a cabeça
lucidez?
vil senda essa
não há volta a dar
uma vez vista a imagem
imprime-se na alma
e degrada
a alegria que louvava
quando não sabia andar
do berço lembro-me da luz
mas sem colo
as grades frias
ainda me ferem
resta-me dormir
e ser-me sonhada
o que não consigo ser
acordada
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